
Evangelho de João
No centro da argumentação de Bento XVI está o Evangelho de João, a quarta narrativa sobre a vida de Jesus na Bíblia cristã. Nele, Cristo é apresentado como o Verbo (ou Palavra, tradução do grego Lôgos), uma entidade divina existente antes da criação do mundo. Em outras passagens do mesmo texto, Jesus se apresenta como igual ou equivalente ao "Pai" (Deus). Como o Evangelho de João também afirma derivar do testemunho de alguém que presenciou a vida de Jesus, Ratzinger conclui que as afirmações de Jesus sobre sua intimidade com o próprio Deus foram realmente ditas por ele durante sua pregação na Palestina. O Papa defende que a testemunha ocular por trás do texto seria João, filho de Zebedeu, um dos doze apóstolos.
"Sempre acontece esse problema quando um teólogo dogmático vai analisar os textos do Evangelho. Ele vai optar por dizer que não há ruptura entre os vários textos, que todos eles dizem sempre a mesma coisa", diz Luiz Felipe Coimbra Ribeiro, professor de literatura bíblica da Faculdade Evangélica de Brasília. No entanto, a análise do próprio Evangelho de João mostra que ele pode ser o resultado de um processo gradual de pensamento teológico, que foi progressivamente dando a Jesus essa feição divina.
"Um exemplo disso é que a imagem de Jesus como o Verbo de Deus só aparece no prólogo do Evangelho, sumindo do resto do texto. Por isso, é possível defender que ele seja uma interpolação [inserção] posterior, assim como outros capítulos de João", explica André Chevitarese. Mais importantes ainda são as diferenças profundas de linguagem e temática entre João e os demais evangelistas (Mateus, Marcos e Lucas).
"É praticamente consenso hoje que o apóstolo João não pode ter sido o autor. Para um Evangelho escrito por testemunhas oculares, chama a atenção que o tema do Reino de Deus, elemento central no anúncio de Jesus, praticamente não apareça. A mesma coisa pode-se dizer das parábolas", explica Emilio Voigt, doutor em Novo Testamento e coordenador de ensino à distância da Escola Superior de Teologia de São Leopoldo (RS).
Os pesquisadores também interpretam uma série de referências à expulsão dos seguidores de Jesus das sinagogas judaicas como um sinal de que esse Evangelho foi escrito numa época em que cristãos e judeus tinham sofrido uma separação religiosa total - provavelmente no ano 90 da nossa era, ou cerca de 60 anos após a morte de Cristo.
Se a hipótese for verdadeira, isso significa que o Evangelho de João foi o último a ser concluído. O interessante, afirma Chevitarese, é que os outros textos do Novo Testamento parecem mostrar a convivência de várias visões sobre como e quando os cristãos consideravam que Jesus teria assumido seu status de Cristo, ou seja, de "ungido" (escolhido) e filho de Deus. "Para Paulo [autor dos textos provavelmente mais antigos do Novo Testamento, datados por volta do ano 50], Jesus é o Cristo porque ressuscitou. O Evangelho de Marcos traz esse papel já para o batismo de Jesus feito por João Batista. Os Evangelhos de Mateus e Lucas recuam isso para o nascimento dele, enquanto João vê Cristo como preexistente ao próprio mundo. São quatro cristologias diferentes convivendo num espaço de 50, 60 anos", avalia ele.
No centro da argumentação de Bento XVI está o Evangelho de João, a quarta narrativa sobre a vida de Jesus na Bíblia cristã. Nele, Cristo é apresentado como o Verbo (ou Palavra, tradução do grego Lôgos), uma entidade divina existente antes da criação do mundo. Em outras passagens do mesmo texto, Jesus se apresenta como igual ou equivalente ao "Pai" (Deus). Como o Evangelho de João também afirma derivar do testemunho de alguém que presenciou a vida de Jesus, Ratzinger conclui que as afirmações de Jesus sobre sua intimidade com o próprio Deus foram realmente ditas por ele durante sua pregação na Palestina. O Papa defende que a testemunha ocular por trás do texto seria João, filho de Zebedeu, um dos doze apóstolos.
"Sempre acontece esse problema quando um teólogo dogmático vai analisar os textos do Evangelho. Ele vai optar por dizer que não há ruptura entre os vários textos, que todos eles dizem sempre a mesma coisa", diz Luiz Felipe Coimbra Ribeiro, professor de literatura bíblica da Faculdade Evangélica de Brasília. No entanto, a análise do próprio Evangelho de João mostra que ele pode ser o resultado de um processo gradual de pensamento teológico, que foi progressivamente dando a Jesus essa feição divina.
"Um exemplo disso é que a imagem de Jesus como o Verbo de Deus só aparece no prólogo do Evangelho, sumindo do resto do texto. Por isso, é possível defender que ele seja uma interpolação [inserção] posterior, assim como outros capítulos de João", explica André Chevitarese. Mais importantes ainda são as diferenças profundas de linguagem e temática entre João e os demais evangelistas (Mateus, Marcos e Lucas).
"É praticamente consenso hoje que o apóstolo João não pode ter sido o autor. Para um Evangelho escrito por testemunhas oculares, chama a atenção que o tema do Reino de Deus, elemento central no anúncio de Jesus, praticamente não apareça. A mesma coisa pode-se dizer das parábolas", explica Emilio Voigt, doutor em Novo Testamento e coordenador de ensino à distância da Escola Superior de Teologia de São Leopoldo (RS).
Os pesquisadores também interpretam uma série de referências à expulsão dos seguidores de Jesus das sinagogas judaicas como um sinal de que esse Evangelho foi escrito numa época em que cristãos e judeus tinham sofrido uma separação religiosa total - provavelmente no ano 90 da nossa era, ou cerca de 60 anos após a morte de Cristo.
Se a hipótese for verdadeira, isso significa que o Evangelho de João foi o último a ser concluído. O interessante, afirma Chevitarese, é que os outros textos do Novo Testamento parecem mostrar a convivência de várias visões sobre como e quando os cristãos consideravam que Jesus teria assumido seu status de Cristo, ou seja, de "ungido" (escolhido) e filho de Deus. "Para Paulo [autor dos textos provavelmente mais antigos do Novo Testamento, datados por volta do ano 50], Jesus é o Cristo porque ressuscitou. O Evangelho de Marcos traz esse papel já para o batismo de Jesus feito por João Batista. Os Evangelhos de Mateus e Lucas recuam isso para o nascimento dele, enquanto João vê Cristo como preexistente ao próprio mundo. São quatro cristologias diferentes convivendo num espaço de 50, 60 anos", avalia ele.
Postadp por HRubiales
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